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Construção e Gestão de Edifícios «as a Service»

As necessidades e preferências das pessoas e empresas variam ao longo do tempo, pelo que o valor funcional e económico dos edifícios tende a diminuir caso não seja garantida a sua operação, manutenção e renovação de forma adequada.

É neste contexto que o conceito Building as a Service (BaaS) ganha particular importância, ao implicar uma entidade (proprietária ou não do edifício) que fica responsável por assegurar todo o acompanhamento dos espaços e respetivos sistemas de instalações e equipamentos enquanto serviço prestado aos seus utilizadores. Assim, em vez de uma aquisição ou aluguer corrente, os clientes subscrevem serviços para utilizar espaços que estão constantemente adaptados às suas necessidades durante períodos e condições previamente acordados. Estes serviços podem incluir climatização, segurança, limpeza, energia e comunicações, mobiliário e decoração, bem como obras de reparação ou renovação dos espaços, que podem ser, por exemplo, escritórios ou centros de saúde.

Enquanto no setor da tecnologia a oferta deste tipo de soluções já existe há décadas (por exemplo, software as a service ou SaaS), no setor da construção este conceito começou a ganhar tração principalmente a partir de 2008, com a crise financeira global, em que os investidores passaram a focar-se mais nas despesas de operação (em inglês, operational expenditures ou OpEx), do que no investimento (em inglês, capital expenditures ou CapEx), dos seus ativos construídos, procurando para tal apoio externo e profissionalizado.

Entre os benefícios do BaaS, destacam-se a adaptabilidade e o foco na experiência do utilizador (adaptação dos espaços conforme os requisitos dos clientes ao longo do tempo), bem como a eficiência energética e a economia circular (preferência por materiais renováveis, recicláveis e reaproveitáveis para outros espaços sob gestão).

Os desafios e oportunidades passam, por exemplo, pela adoção de soluções modulares (por exemplo, sistemas de fachada ou módulos de cozinhas e casas de banho facilmente substituíveis) e pelo registo digital e organizado da informação (por exemplo, sobre instalações, equipamentos e acabamentos) durante a construção do ativo. Posteriormente, é necessário implementar infraestruturas tecnológicas robustas, como sistemas inteligentes que incorporam sensores de Internet of Things (IoT), para apoiar a análise de dados (por exemplo, temperatura, humidade, nível de ocupação) e o planeamento de soluções adaptadas aos utilizadores dos espaços. Do ponto de vista do proprietário e da empresa gestora, o modelo de negócio a adotar para explorar o ativo é também uma preocupação, seja através de uma renda fixa, uma taxa de gestão, uma participação na receita ou indiretamente através da valorização do imóvel.

As medidas para facilitar a implementação do BaaS na gestão de edifícios incluem a utilização de modelos de contratação para a construção e exploração de edifícios (e infraestruturas) que envolvam as entidades operadoras o mais cedo possível na cadeia de valor do ativo construído, ao abrigo de processos colaborativos e vinculativos em função do desempenho a longo prazo (por exemplo, funcional e económico). Adicionalmente, é crucial a formação e capacitação dos profissionais e empresas na área das novas tecnologias (por exemplo, modelação de informação da construção e inteligência artificial) para sustentar o desenvolvimento de modelos BaaS.

Em suma, pretende-se responder à dinâmica da evolução das sociedades com o tempo, juntamente com o progresso tecnológico e a adoção de modelos para o desenvolvimento e gestão de edifícios mais colaborativos e rentáveis para as partes interessadas.
Fonte: Diário Imobiliário, Bruno de Carvalho Matos,Engenheiro Civil
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